janeiro 26, 2009

Texto

AMAR Que pode uma criatura senão,entre criaturas, amar?
Amar e esquecer, amar e malamar,amar, desamar, amar?
Sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,sozinho, em rotação universal,senão rodar também, e amar?
Amar o que o mar traz à praia,o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,o que é entrega ou adoração expectante,e amar o inóspito, o cru,um vaso sem flor, um chão de ferro,e o peito inerte, e a rua vista em sonho, euma ave de rapina.
Carlos Drumond de Andrade

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